A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira divulgou balanço do Halal do Brasil, projeto setorial apoiado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) para fomentar embarques dos chamados alimentos halal, aqueles voltados ao consumidor muçulmano.
De acordo com a Câmara Árabe, nos dez primeiros meses de 2024, as 59 empresas já aptas a exportar pelo projeto, que hoje apoia um total de 124 organizações, abriram nove novos mercados, elevando para 156 o total de países alcançados pela iniciativa, segundo o critério de avaliação estipulado pela ApexBrasil.
As exportações das empresas participantes no período somaram US$ 3,61 bilhões, alta de 20,48% sobre janeiro-setembro de 2023. Os principais destinos foram Arábia Saudita, China, Emirados Árabes, Japão e Kuwait. Frango, açúcar, carne bovina, café, algodão, óleo de amendoim e arroz lideraram a pauta. O número de categorias exportadas (NCMs) também saltou de 190 para 343 entre setembro de 2023 e o mesmo mês de 2024, considerando todos os produtos das participantes, inclusive eventuais itens destinados a não-muçulmanos.
“Estamos habilitando cada vez mais empresas para atuar no mercado de consumo muçulmano”, avalia Osmar Chohfi, presidente da Câmara Árabe-Brasileira. “O número de empresas exportadoras subiu 80% de um ano para cá. As cerca de 50 empresas que entraram este ano também são de fora do segmento de proteínas, o carro chefe das exportações. Isso nos dá a perspectiva de diversificar as vendas com alimentos de maior valor agregado futuramente”, analisa o dirigente.
O alimento halal difere dos demais pelo método produtivo, que respeita princípios da religião islâmica. No caso das proteínas animais, o abate precisa ser feito pelo método de degola, sem insensibilização elétrica, por abatedor muçulmano, sob o rito islâmico e em uma linha voltada para a cidade sagrada de Meca. Também são necessárias medidas para evitar a contaminação com substâncias proibidas, como álcool e derivados suínos, que também valem para alimentos processados. Além disso, respeito ao meio ambiente e ética nas relações de contratação contam para que um alimento seja certificado como halal.
O Brasil inaugurou atuação neste mercado em meados dos anos 1970, quando aceitou trocar frango por combustível fóssil com a Arábia Saudita, no período agudo da Crise do Petróleo, quando o uso do dólar em transações internacionais estava inviabilizado. De lá para cá, o país sul-americano se tornou o maior exportador mundial de proteínas halal, vendendo cerca de US$ 5 bilhões do produto por ano. Também se tornou o maior fornecedor de alimentos para os 57 países da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), com exportações ao bloco totalizando US$ 23,39 bilhões em 2023, segundo a Inteligência de Mercado da Câmara Árabe.
Apesar do destaque, a avaliação da Câmara Árabe é de que o Brasil pode ter espaço nas categorias industrializadas de produtos certificados, nas quais o país tem pouca inserção. A entidade destaca que a pauta de exportação do país com a OCI é prevalente em produtos básicos, como açúcar, grãos, frango, bovino, café e mate. As vendas também respondem por apenas 9,81% das importações totais de alimentos do bloco. Além disso, o The State of Islamic Economy Report de 2024 estima que a alimentação halal movimente no mundo US$ 1,4 trilhão por ano, havendo 1,9 bilhão de consumidores em potencial.
A partir desse diagnóstico, o Halal do Brasil foi estruturado para estimular empresas a adotar a certificação de produção conforme aos princípios islâmicos. Além de obrigatório em países muçulmanos para vários alimentos importados, o selo facilita vendas ao dar ao consumidor segurança para escolher um produto associado ao respeito à sua identidade. Chohfi afirma que, no projeto, 59 das 124 empresas já fazem exportações com alguma prevalência de itens certificados. As demais estão em processo de certificação ou prospectando clientes com produtos que não requeiram o selo.
Outro pilar do projeto são as ações de promoção comercial. Nos últimos dois anos, a Câmara Árabe e a ApexBrasil organizaram missões a feiras estratégicas, como Gulfood (Emirados Árabes Unidos), MIHAS (Malásia), Anuga (Alemanha), Saudi Halal Expo (Arábia Saudita) e Food Africa (Egito). A promoção inclui rodadas de negócios com compradores trazidos ao Brasil com recursos da ApexBrasil.
A última rodada de negócios do Halal do Brasil ocorreu no fim do ano passado, em São Paulo, com 45 empresas brasileiras e 9 importadores vindos do Norte da África, do Oriente Médio e do Sudeste Asiático. Os importadores também visitaram empresas em Goiás, Minas Gerais e Paraná, numa ação organizada com federações de indústrias e governos estaduais, que tem sido decisiva para atrair empresas ao projeto.
Uma das empresas que ingressou depois das visitas foi a Danês Alimentos. A fabricante paranaense de rações para pets é a primeira fora do setor alimentício a participar do Halal do Brasil. A Danês está certificando suas rações e fechou participação na Food Africa no fim do ano, mirando entrar no Egito. O selo halal não é obrigatório para rações, mas pode ajudar a empresa a se destacar no ponto de venda, conforme explica Chohfi.
“Nos supermercados da Malásia, por exemplo, o produto com certificação fica sempre nas gôndolas nobres. Os itens sem certificado, destinados aos estrangeiros e não-muçulmanos, ficam numa área separada, sinalizada para avisar aos muçulmanos que ali não estão os produtos que eles preferem”, contou o dirigente.
As novatas incluem, ainda, empresas de biscoitos, massas, doces, chocolates, sorvetes, cafés e produtos amazônicos. “Temos uma posição importante em carnes e commodities que temos de preservar. Mas o crescimento virá da venda de valor agregado”, diz Chohfi.
Halal do Brasil em números
Países Alcançados:
Setembro de 2024: 156
Setembro de 2023: 137
Exportações efetivadas:
Janeiro a setembro de 2024: US$ 3,61 bilhões
Janeiro a setembro de 2023: US$ 2,99 bilhões
Empresas apoiadas:
Em setembro de 2024: 126 (59 exportadoras)
Em setembro de 2023: 70 (32 exportadoras)
Fonte: Sistema Fenix/ApexBrasil
Categorias de produtos exportadas:
Em setembro de 2024: 342 NCMs*
Em setembro de 2023: 190 NCMs*
– 1,4 trilhão de dólares é o tamanho do mercado mundial de alimentação halal.
Fonte: The State of Islamic Economy Report 2023/24
– 1,9 bilhão é o número de consumidores em potencial para alimentos halal.
Fonte: The State of Islamic Economy Report 2023/24
*Sigla para Nomenclatura Comum do Mercosul, usada para categorizar produtos exportados.