Em mais um movimento para ampliar sua operação de nutrição animal no Brasil, a Cargill fez uma parceria com a Coamo, maior cooperativa agrícola da América Latina, para produção de rações para aves e suínos, em Campo Mourão (PR). É a segunda transação do tipo este ano — em fevereiro, a multinacional anunciou acordo com a Bom Negócio, de Patrocínio (MG), para ampliar a produção da sua linha de suplementos minerais para bovinos.
Com a nova parceria, a Cargill Nutrição Animal expande seu portfólio e entra num segmento em que ainda não atuava, o de rações para aves e suínos. Até então, a empresa só produzia ração pronta para leitões e os chamados premix, misturas de vitaminas e minerais que são um dos ingredientes das rações.
O diretor geral da Cargill Nutrição Animal na América do Sul, Celso de Mello, afirma que a parceria estratégica é a junção de duas “fortalezas”. A Coamo, diz ele, “tem a oferta de grãos [soja e milho], a capilaridade”, e a Cargill, “o conhecimento da nutrição em si”.
As rações, que serão comercializadas com a marca Nutron, da Cargill, começaram a ser produzidas na fábrica recém-inaugurada pela Coamo, em Campo Mourão, sob contrato de exclusividade. A unidade tem capacidade de produção de 7 mil toneladas por mês.
Segundo Mello, a Cargill fornece a formulação das rações e audita o processo de produção na unidade e depois faz a comercialização. “Eles produzem para nós com os grãos que recebem dos cooperados. Acabam agregando valor àquela produção”, observa.
Fábrica
A localização da fábrica, aliás, é outro ponto estratégico da parceria, já que a região Sul é a principal produtora de aves e suínos do Brasil. Como ração é sinônimo de grandes volumes, estar perto dos clientes, no caso os criadores, é fundamental, segundo Mello.
“A ração não pode viajar muito porque é muito volume para ficar levando a distâncias longas. E como o Paraná é o maior produtor de proteína animal no país, junto com Santa Catarina, então quisemos completar o portfólio, fazendo ração para aves e suínos, e perto do produtor”, observa.
Hoje, a operação de nutrição animal da Cargill no Brasil é o terceiro maior mercado da divisão globalmente, atrás apenas de Estados Unidos e China. O plano é continuar avançando, e as parcerias são uma forma de acelerar a expansão.
Mello reitera que o principal negócio da divisão é a produção de premix e núcleos vitamínicos. Assim, eventualmente, investir na construção de fábrica para ampliar a capacidade produtiva desses itens faria sentido. Mas o mesmo não se aplica à ração. “Nosso negócio não é fazer a ração final. Não vamos construir fábrica para isso. Mas como acreditamos que há parceiros muito bons, então fazemos a parceria. É uma maneira de acelerar a ida ao mercado com portfólio maior”, afirma.
Os recentes investimentos da Cargill para ampliar a área de nutrição animal refletem uma expectativa da empresa de que a avicultura e a suinocultura seguirão crescendo no Brasil.
Mello observa que a produção de grãos no mundo está “basicamente na América do Norte e do Sul e algo no Leste Europeu”. Como o custo da ração — que tem milho e farelo de soja — é 70% do custo da proteína animal, é natural que a produção de aves e suínos venha atrás como maneira de agregar valor ao grão, diz ele.
Em nota, o presidente-executivo da Coamo, Airton Galinari, celebrou a parceria. “Para nós da Coamo, é motivo de satisfação ter a Cargill como importante cliente nesses anos todos, e celebrar esta parceria com o fornecimento da nossa linha de rações”.
Ele destacou ainda que as rações têm como matéria-prima milho, soja e trigo entregues pelos cooperados. No ano passado, a Coamo recebeu 10 milhões de toneladas de grãos de seus associados.
Em outra frente para expandir os negócios de nutrição animal, a Cargill está construindo uma fábrica de sal mineralizado — produto destinado a alimentação de bovinos — em Primavera do Leste (MT). Com capacidade de produção de 120 mil toneladas, a unidade deve começar a operar em agosto do ano que vem, segundo Mello. Ele não revela o valor do investimento.
Nesse caso, a estratégia também é estar perto do mercado consumidor. “O Mato Grosso tem o maior rebanho bovino do Brasil, e não dá para ficar viajando muito com sal mineral, então temos de estar lá”, afirma.
Hoje, a Cargill Nutrição Animal tem seis fábricas no país e quatro parceiros de terceirização. A divisão, em nível global, representa cerca de 15% da receita total da multinacional, que foi de US$ 160 bilhões no ano fiscal encerrado em maio.
Com mais de 32 mil cooperados nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, a Coamo registrou uma receita de R$ 30,295 bilhões em 2023.