Levantamento da Embrapa aponta que ficou mais caro manter os animais.
O suinocultor independente Adir Engel, de Braço do Norte, no Sul de Santa Catarina, conta que está fazendo caixa para pagar o custeio da atividade após 38 meses de crise. “Em termos de investimento, só tenho feito o básico – e calculando muito bem. Nem pensar em aumentar o plantel”, afirma.
Ele salienta que sentiu a elevação do custo de produção, principalmente devido à alta do preço da ração. “Qualquer alteração no mercado de grãos já reflete nos custos, principalmente porque nosso Estado não é produtor de grãos e o milho e a soja vêm de outras regiões”, avalia.
Dados da Embrapa Suínos e Aves confirmam o que o produtor percebe no dia a dia de sua lida no campo. Em Santa Catarina, o custo de produção do quilo de suíno vivo, em janeiro deste ano, alcançou R$ 6,34, elevação de 2,2% em relação a dezembro do ano anterior. O aumento acumulado nos últimos doze meses foi de 7,39%, com o ICPSuíno alcançando 362,93 pontos.
A ração destacou-se como o principal componente, com um aumento de 1,3% no mês e +5,9% no acumulado dos últimos doze meses, atingindo uma participação de 72,8% no custo total de produção.
A Embrapa faz o levantamento mensalmente, para suínos e frangos de corte. Santa Catarina (suínos) e Paraná (frango) são referências nos cálculos devido à sua posição como maiores produtores nacionais.
Adir tem aproximadamente 500 matrizes. Ele comercializa suínos terminados e, em menor volume, leitão. São de 230 a 250 animais por semana. Há 20 dias os custos dos insumos eram uma “grande preocupação”. Ele explica que o milho, um dos principais ingredientes da alimentação do plantel, passou de R$ 78 para R$ 84 a saca. Os minerais, usados na complementação da nutrição dos animais, também tiveram aumento entre 10% a 14%. Na avaliação do produtor: “praticamente tudo subiu”.
Por outro lado, Adir destaca que o crescimento na exportação dos suínos aumentou a procura pelo animal no mercado interno, melhorando o preço pago ao produtor – que chegou a R$ 8,80 o quilo no fim de 2024 e neste mês está em R$ 8,05 -, e trazendo mais equilíbrio à produção: “claro que ainda vou ‘pisar em ovos’, mas com o cenário que temos hoje, a gente espera um ano bom”.
Segundo o Boletim Agropecuário da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina/Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), “os preços do suíno vivo apresentaram altas em todos os principais estados produtores nas primeiras semanas de fevereiro, quando comparados aos de janeiro”. A alta está relacionada à oferta enxuta de animais para abate em alguns estados e aos bons resultados das exportações.
Em janeiro de 2025, Santa Catarina embarcou para o mercado externo 55,7 mil toneladas de carne suína, alta de 2,9% na comparação com janeiro de 2024, relata o documento. O volume é o melhor para o período desde o início da série histórica, em 1997.
Alexandre Giehl, analista de socioeconomia e desenvolvimento rural do Cepa/Epagri, explica que o preço pago ao produtor em fevereiro deste ano está 19,4% superior ao do mesmo mês do ano passado, considerando a inflação do período. “É raro estar nesse patamar”, ressalta. Para os suinocultores integrados, o valor médio praticado no Estado é de R$ 6,87 o quilo.
O boletim aponta ainda que a quantidade de suíno vivo necessária para adquirir uma saca de 60kg de milho está abaixo do que era preciso há um ano: 10,4 kg de suínos vivos em fevereiro de 2025 (valores preliminares) e 1,9 de suínos vivos no mesmo mês de 2024.
Giehl comenta que, apesar da elevação dos custos apontada pela Embrapa, o cenário é favorável para os suinocultores da região neste ano: “bons resultados estão sendo projetados, no caso de se confirmar esse custo de produção estável, tendo em vista os sinais de boa safra do milho. Com a demanda elevada por suínos, os preços ao produtor não devem cair muito e a atividade deve permanecer rentável”.
Frango
No frango de corte, a situação é semelhante. Os dados da Embrapa mostram que, no Paraná, o custo do quilo atingiu R$ 4,81 em janeiro, aumento de 0,5% em relação ao mês de dezembro do ano anterior. O aumento acumulado nos últimos doze meses foi de 9,55%, com o ICPFrango alcançando 372,49 pontos.
A ração destacou-se como o principal componente de custo, com um aumento de 1,4% no mês e 8,9% no acumulado dos últimos doze meses, atingindo uma participação de 67,8% no custo total de produção.
Para o avicultor Marcelo Morília Telles, que toca a propriedade junto com a esposa, Leonice Friedrich, em Palotina (PR), há outras despesas ainda mais representativas no custo. Por ser integrado a uma cooperativa da região, a ração é fornecida a um preço tabelado. Outros insumos, como energia elétrica, e gastos operacionais, como óleo diesel, maquinário e mão de obra, acabam sendo mais relevantes.
“Com o calor, temos que aumentar a ventilação do aviário, o que eleva o custo da energia elétrica”, explica.
A atividade é definida como complexa por ele, uma vez que as condições climáticas estão muito desfavoráveis. Marcelo comenta que as aves são de linhagens diferentes e algumas apresentam pouca tolerância à ventilação. Com uma estrutura que inclui quatro aviários e 33 mil animais, o produtor, que também atua com piscicultura, enfatiza que não planeja novos investimentos no momento: “está muito arriscado”.
Informe publicado pela Divisão de Conjuntura Agropecuária do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná, indica que, em janeiro de 2025, o preço nominal médio estadual do frango vivo ao produtor no Estado foi de R$ 4,46/kg, representando um recuo de 1,8% em relação ao preço médio de 2024, de R$ 4,54/kg, e de 3,3% sobre o do mês anterior (dezembro: R$ 4,61/kg).