No dia 06 de março, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, anunciou uma série de medidas para tentar conter a inflação dos alimentos. O governo anunciou que vai zerar as alíquotas de importação para um conjunto de alimentos: carne (alíquota atual 10,8%), do café (9%), açúcar (14%), milho (7,2%), óleo de girassol (9%), azeite de oliva (9%), sardinha (32%), biscoitos (16,2%) e massas alimentícias (14,4%). As ações para redução de impostos ainda necessitam da Câmara de Comércio Exterior (Camex), sem data definida para a análise. As isenções fiscais não terão um prazo determinado de vigência.
O vice-presidente anunciou que o Plano Safra dará prioridade à produção de alimentos da cesta básica, estendendo subsídios do Pronaf ao Pronamp. Além disso, insumos importantes para a indústria do agronegócio também poderão ser subsidiados, segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar Paulo Teixeira. Adicionalmente, Alckmin destacou que fortalecer os estoques reguladores da Conab será uma medida para conter a inflação dos alimentos, garantindo recursos para a Conab atuar no momento adequado.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, anunciou que o Serviço de Inspeção Municipal (SIM) terá, por um ano, equivalência ao Sistema Brasileiro de Inspeção (Sisbi) para produtos sem risco sanitário, como leite, mel e ovos. A medida visa ampliar a competitividade e oportunidades para produtos da agricultura familiar. Ainda, Alckmin pediu que os Estados eliminem o ICMS sobre itens da cesta básica, seguindo o exemplo do governo federal que já zerou esses tributos. Ele afirmou que levará essa demanda aos governadores para reduzir a carga tributária sobre esses produtos.
O valor da renúncia fiscal com a redução das tarifas de importação não foi detalhado no anúncio. Guilherme Mello, secretário de Política Econômica, afirmou que notas técnicas serão elaboradas para avaliar os impactos das medidas. As medidas visam aumentar a competitividade e reduzir os preços internos, apesar de muitos produtos terem baixa importação devido à alta tributação. Mello destacou que, embora o impacto na arrecadação possa ser pequeno, o efeito para o consumidor será significativo.
No dia 07 de março, em evento em Lisboa, o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, comentou que o PIB de 2024 foi um pouco mais fraco do que o esperado, com consumo das famílias também abaixo das expectativas. Ele destacou que a ata do Copom já indicava sinais iniciais de desaceleração econômica, mas com cautela devido à alta frequência dos dados. Guillen mencionou indicadores de crédito e confiança como sinais de moderação no final do ano passado, mas observou que dados negativos podem ser apenas ruído ou volatilidade. O diretor afirmou que a moderação do crescimento é necessária para atingir a meta de inflação, embora os dados recentes sejam mistos, dificultando a identificação de uma tendência clara.
Análise do Mercado
Segundo o relatório divulgado nesta segunda-feira pelo Rabobank, externamente, o presidente dos EUA, Donald Trump, adiou as tarifas sobre produtos importados do México e do Canadá até o dia 2 de abril. Enquanto isto, a Alemanha anuncia plano de gastos de até EUR 900bi em defesa e em infraestrutura, enquanto Trump corta compartilhamento de inteligência com Ucrânia.
O relatório do Rabobank ainda aponta que o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que ainda não há urgência em considerar alterações nas taxas de juros. Ainda nos EUA, os dados de mercado de trabalho referente a fevereiro mostraram que a economia criou 151 mil empregos em janeiro (mercado: 160 mil; jan: 125 mil) e a taxa de desemprego subiu para 4,1% (mercado: 4,0%; jan: 4,0%). Domesticamente, PIB abaixo do previsto e governo zera a alíquota de importação sobre diversos alimentos em tentativa de combater a inflação.
Câmbio: o índice DXY (7-mar-2025: 103.860) mostrou que o dólar americano depreciou-se (-3,5%) em relação a pares do G10 na última semana. O índice MSCI EMFX de moedas de mercados emergentes subiu a 1.756 pontos (0,75%). Na sexta, o dólar encerrou o dia a R$ 5,7900, implicando uma apreciação de 1,61% do real frente à moeda americana na semana, o nono melhor desempenho entre 24 moedas emergentes.
Commodities e renda variável: o índice CRY de commodities subiu a 301 pontos na sexta-feira (-0,3% em relação à sexta passada). O preço do petróleo Brent caiu a US$ 70,36/barril na sexta-feira (-3,4%), e os preços das commodities agrícolas tiveram performance negativa e os das metálicas positiva na semana. O S&P500 caiu a 5,762 (-3,2%) e o Ibovespa subiu a 125.636 pontos (2,3%). A título de comparação, o índice de ações MSCI para a América Latina também subiu, a 2.019 pontos (2,0%).
Renda Fixa: o rendimento da Treasury de 10 anos subiu para 4,316% na última sexta-feira (10,7 pb) e, de acordo com o CME FedWatch, no dia 7 de março, a probabilidade de que o Fed retome o ciclo de afrouxamento monetário com um corte de 25pb na reunião do dia 19de março de 2025 é de 3,0% (de 8,0% no dia 28 de fevereiro), enquanto a probabilidade de manutenção é de 97,0% (de 92,0% antes). O spread do CDS brasileiro de cinco anos caiu a 174pb (-6pb). A curva de juros perdeu inclinação em um bull flattening. Os DIs caíram para 14,745% em Jan26 (-21,9pb), para 14,650% em Jan30 (-47,4pb) e para 14,690% em Jan33 (-43,7pb). Os swaps dos DIs estão precificados em 15,025% em dez-25 (de 15,449% antes), e 14,888% em dez-26 (15,149% antes).
Ainda segundo análise do Rabobank, a maior incerteza tarifária e geopolítica predomina, diminuindo otimismo do começo do ano e o dólar terminou a semana anterior em R$ 5,7900, uma apreciação semanal de 1,6% do real frente ao dólar (ainda assim, o nono melhor desempenho semanal numa cesta de 24 moedas emergentes).
O relatório aponta ainda que, o real brasileiro permanecerá à mercê das incertezas globais (p. ex.: potencial espaço menor de corte de juros americanos, dúvidas quanto à velocidade de desaceleração das economias dos EUA e China, riscos geopolíticos, potencial alta de juros no Japão) e locais (fortes dúvidas quanto à sustentabilidade do marco fiscal). Para 2025, o Rabobank aponta ainda que o forte diferencial entre juros locais e externos deve conter parte das incertezas e o dólar deve terminar o ano cotado em R$ 6,09.