Os sul-americanos são predominantemente onívoros – ou seja, consideram que uma dieta bem equilibrada inclui o consumo de carnes, vegetais, grãos e frutas -, mas estão tentando reduzir o consumo de proteínas animais e experimentando cada vez mais alimentos plant-based. É o que aponta pesquisa feita por Mario Rioda, pesquisador e consultor para governos da América Latina e diretor do mestrado em Comunicação Política da Universidade Austral (Argentina), a pedido do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA).
Ao entrevistar, em dezembro de 2021 e janeiro deste ano, mil pessoas nas cidades de Montevidéu (Uruguai), Rosário, Buenos Aires e Córdoba (Argentina) e Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo (Brasil), Rioda identificou que 64,52% delas eram onívoras, 26,5% “flexitarianas” (que tentam diminuir o consumo de carnes), 6,5% vegetarianas, 2% veganas e 0,8% pescatarianas.
Dos três países, o Brasil era o que tinha mais onívoros – 70,5% do total -, enquanto a Argentina contava com o maior número de flexitarianos (37,3%). “Sabor, preço e aporte nutricional são os elementos que explicam o tipo de alimentação. Os onívoros normalmente pedem sabor, flexitarianos e pescatarianos buscam uma nutrição melhor, enquanto os vegetarianos e veganos costumam levar em conta convicções éticas sobre o consumo animal”, afirma o pesquisador.
A religião também pesa na decisão. Entre os hinduístas, 100% eram vegetarianos, enquanto entre os flexitarianos havia um maior número de agnósticos, ateus ou não-religiosos, com 23,5% do total nos países.
Dos grupos que consumiam carne bovina, suína, ovina ou caprina, 26,5% estavam reduzindo o consumo, 41,5% tentavam diminuir e 32% não tentavam. “A ideia de experimentar e variar alimentos é predominante, mas isso não deve ser confundido com mudança de hábitos alimentares para onívoros. Podemos observar que as pessoas com hábitos onívoros tendem a ser menos flexíveis que as de outros perfis para experimentar ou confiar em novos alimentos”, destaca Rioda.
Segundo o pesquisador, uma macroleitura mostra que a carne é insubstituível, indiscutível e não é vista como algo ruim, mas colide com o conceito de “matar para comer” que começa a ser encarado como um problema em algumas comunidades. “Entre aqueles que não comem carne, tudo o que tem a ver com carne é ruim ou negativo. A rejeição não é parcial e não admite moderação”.
No que se refere à carne produzida em laboratório, a inclinação para experimentá-la é alta entre onívoros e flexitarianos, e 73,6% dos entrevistados expressaram probabilidade total ou parcial de isso acontecer. Quase 74% dos brasileiros afirmaram estar dispostos a provar a carne de laboratório. Na Argentina, 63,2% mostraram essa disposição, e, no Uruguai, 61,6% – há maior resistência entre pessoas com mais de 60 anos. Mas, apesar dessa disposição, 60,3% dos entrevistados disseram que seria improvável que pagassem mais pela carne de laboratório.
A pesquisa de Rioda também considerou as proteínas à base de plantas e, nesse caso, 61,2% dos entrevistados expressaram uma probabilidade total ou parcial de experimentar produtos desse segmento. No Brasil, 70,8% dos entrevistados mostraram-se mais uma vez mais abertos a experimentações, proporção maior que na Argentina (56,9%) e Uruguai (50,1%). Pessoas com mais de 40 anos têm menor probabilidade de comer produtos plant-based em vez de carne.
A pesquisa também foi em busca de hábitos de preparo e consumo e detectou que mais de 70% dos entrevistados preparavam os alimentos em casa, que 29,3% pediam comida fora ou iam a restaurantes pelo menos uma vez por mês e que 26,6% o faziam uma ou duas vezes por semana. No Brasil, o percentual dos que consumiam alimentos fora de casa ou faziam pedidos uma ou duas vezes por semana chegou a 33,6%.