A agricultura e o agronegócio são altamente impactados pelas variáveis macroeconômicas. Por exemplo, a taxa de juros, que é um dos elementos fundamentais pois define o curso do capital o curso do financiamento, da produção e da comercialização.
Quem explica com exclusividade para a MundoAgro quais são os principais pontos de atenção no cenário macroeconômico que os agentes de mercado de proteína animal devem ter para ter estabilidade de mercado é Ivan Wedekin, Professor da FIA, profissional com formação teórica e vivência prática em economia e gestão de empresas privadas e organizações públicas no agronegócio. Wedekin foi Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e teve atuação no mercado financeiro, como Diretor da BM&FBOVESPA e CEO da Bolsa Brasileira de Mercadorias.
Segundo Wedekin, no cenário atual da economia mundial, há uma perspectiva de taxa de juros ainda mais elevada ao longo deste ano. “Outra variável é a taxa de câmbio. Aqui no Brasil ela é definida pelas forças de oferta e demanda das moedas no plano mundial. Nem o Banco Central, que tem reservas acima de R$ 300 bilhões, tem o poder sobre a taxa de câmbio real x dólar no Brasil”, detalha.
De acordo com ele, o valor da moeda brasileira é fixado no mercado internacional, o que gera uma natural dependência da política monetária, principalmente dos Estados Unidos. “Com isso, chegamos ao terceiro ponto de risco que é a política econômica a ser adotada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”, ele diz. “Temos um ‘efeito Trump’ que gera mais instabilidade e, portanto, volatilidade sobre os mercados, isso porque hora ele estabelece tarifas, depois há uma negociação, reduz as tarifas, então tem um risco de mercado”, afirma Ivan Wedekin.
Dentro deste cenário macroeconômico há uma outra variável que é o efeito do clima sobre a produção, aponta Wedekin. “A maioria das altas ou baixas de preços das commodities agrícolas é muito definida pela variação da oferta, que é determinada muitas vezes pelo clima e não necessariamente pela demanda que se move muito mais lentamente”, destaca.
Como buscar estabilidade de preços entre o consumo no mercado interno x exportação de proteína animal?
Ivan Wedekin explica que não há nenhuma possibilidade de estabilidade na relação que envolve o mercado externo e o consumo interno de proteína. “Muitas vezes as lideranças respondem, até mesmo o Presidente da República, que pressiona por conta dos valores dos alimentos, da carne, ovos e assim por diante, mas essa paridade entre consumo interno e exportação é determinada pelas forças de mercado”, ele explica.
“Os exportadores são empresas privadas com centenas de clientes ao redor do mundo. O Brasil é o maior exportador de carne bovina no mundo, o maior exportador de carne de frango do mundo e o segundo maior de carne suína. Os preços são determinados pela movimentação externa e pelo consumo interno”, diz.
De acordo com Wedekin, o consumo interno tem sido mais forte neste último ano pelo menos por conta da menor taxa de desemprego, do aumento do salário médio, e do volume bilionário que o governo tem colocado na sua política de proteção social como é o caso do Bolsa Família, que insufla a demanda e é um elemento de alta, de uma pressão altista no mercado, que só vai se resolver com o aumento da oferta.
Panorama no cenário de proteína animal no primeiro semestre e expectativa para o segundo semestre
Além das variáveis macro – taxa de juro, câmbio, demanda externa, que dependem do crescimento da economia mundial – além de tudo isso, Ivan Wedekin aponta sobre os riscos que envolvem as variáveis internas dentro dos mercados específicos de cada segmento de proteína animal.
“Há variáveis internas do mercado, na pecuária de corte, por exemplo, estamos em ciclo de alta dos preços de todas as categorias animais. É certo que o preço médio da arroba do boi gordo neste ano de 2025 será maior do que a média anual de 2024. Isso configura uma natureza do ciclo da pecuária que quando aumenta o preço das categorias mais jovens, a retenção de vacas e novilhas para produzir mais bezerros, tudo isso, ‘misturado’, há uma pressão de alta que reflete em outras proteínas”, diz. “Então, neste primeiro semestre é época de safra de bovinos, e irá depender da oferta no segundo semestre, do clima e devemos ter um aumento dos animais confinados em 2025”, explica.
A volatilidade, segundo ele, deve continuar. “A distribuição mercado interno e externo seguirá o interesse dos investidores em comprar do Brasil e dependerá, principalmente da política econômica do governo norte-americano”, finaliza.