Um grupo de produtores rurais submeteu ao governo, no ano passado, a proposta de criação do programa “Carne no Prato”, que contemplaria a distribuição de um cartão exclusivo para compra de carne em redes conveniadas para famílias de baixa renda. A ideia não começou a tramitar internamente, mas já acendeu o alerta na equipe econômica.
A proposta foi apresentada ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, pelos pecuaristas ligados à Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), em uma reunião em setembro do ano passado. A ideia é destinar R$ 35,00 por família para a compra de 2 quilos de carne bovina ao mês.
Os cálculos da associação mostram que o benefício alcançaria cerca de 19,5 milhões de pessoas, segundo nota explicativa enviada ao Valor. Mas a associação não indicou qual seria o impacto fiscal do programa.
Paulo Teixeira ressalvou ao Valor que a proposta “ainda está em fase inicial para começar a tramitar”. O texto ainda não foi submetido à Casa Civil nem ao Ministério da Fazenda nem ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que coordena o programa Bolsa Família. Na campanha eleitoral de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu retomar o crescimento econômico para que todas as famílias pudessem voltar a fazer churrascos e “comer uma picanha” aos fins de semana.
A Acrissul atribuiu a sugestão do “vale carne” à queda do consumo de carne bovina no Brasil, que em 2023 atingiu o menor nível em 20 anos. Ainda segundo a associação, se o programa fosse implementado, a nova demanda envolveria 475 mil toneladas de carne bovina por ano – duas vezes e meia a quantidade exportada pelo Mato Grosso do Sul no ano passado, de 174 mil toneladas.
“Para se ter uma ideia, no ano passado, o Mato Grosso do Sul abateu 3,5 milhões de cabeças de gado e o programa demandaria 2,3 milhões de cabeças por ano”, compara Guilherme Bumlai, presidente da associação. Guilherme é filho do pecuarista José Carlos Bumlai, que foi condenado no âmbito da Operação Lava-Jato. Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai chegou a ser preso em 2016 por ordem do então juiz da operação e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR).