No primeiro trimestre de 2021 a suinocultura brasileira mergulhou em uma das mais profundas e longas crises da história, com alto custo e oferta elevada de suínos, resultante do crescimento significativo da produção e redução do ritmo de exportações, além de um mercado consumidor interno em crise. Entramos 2022 com os preços pagos ao produtor em queda livre, chegando ao pior cenário em fevereiro deste ano, quando o valor médio da carcaça em São Paulo ficou próximo a R$ 8,00/kg (gráfico 1) e o suíno vivo não chegou a R$ 6,00 (gráfico 2) em nenhuma praça produtora. Porém, conforme demonstra de forma muito clara o gráfico 1, desde março/22 o preço vem subindo de forma lenta e gradual, com um pequeno recuo em setembro e a retomada do crescimento já no mês de outubro.
No boletim de novembro, analisando os números de abate do IBGE até setembro, ficou evidente a redução do ritmo de crescimento da produção, o que colaborou com o ajuste de oferta que, junto com o significativo aumento das exportações no segundo semestre deste ano (tabela 1) determinou um maior equilíbrio entre oferta e demanda interna de carne suína.
Já as exportações que vinham patinando no início do ano, desde agosto/22, quando o recorde de volume embarcado em um único mês foi quebrado, têm acumulado ganhos em relação ao mesmo período do ano passado, chamando a atenção para o crescimento constante do preço unitário em dólar, mês a mês, atingindo o valor médio de US$ 2.558,00 em novembro, o melhor valor desde junho do ano passado. Quando se analisa a China separadamente, o valor médio embarcado chegou a US$ 2.669 em novembro/22, uma diferença de quase 600 dólares (26,6%) a mais do que pagou em janeiro/22.
Importante destacar que a China este ano reduziu em 55% as importações totais de carne suína (MBAgro), porém o Brasil reduziu em somente 20% os embarques para o gigante asiático, ou seja, aumentamos significativamente nossa participação no maior importador mundial. Esta consolidação da parceria comercial junto ao mercado chinês e a ampliação de outros mercados, como Filipinas e Tailândia, aliado ao viés de alta do preço internacional da carne suína devem determinar um volume de embarques satisfatório para o ano que vem.
Com relação aos insumos, observa-se uma relativa estabilidade nas cotações do milho, se mantendo em patamar elevado, mas abaixo das médias do ano passado (gráfico 3) e sem sinais de alta considerável no curto prazo. Já o farelo de soja voltou a subir nas últimas semanas, o que mantém os custos de produção elevados.
O que chama a atenção é que muitos produtores que sempre trabalharam com estoques substanciais de insumos, e que operavam ativamente no mercado futuro de grãos, estão praticamente comprando “da mão para a boca” e arriscando muito pouco nas compras antecipadas. Isto é fruto não somente da descapitalização dos suinocultores, que tiveram que sacrificar o caixa e se endividar para suportar a crise, mas também em função das incertezas em relação à conjuntura nacional e internacional, além de taxas de juro elevadas. Esta é uma situação que causa certa preocupação para o ano que vem, pois se houver frustração de safra ou qualquer outro fator que pressione as cotações dos grãos para cima, deixará boa parte dos suinocultores mais vulnerável a prejuízos financeiros.
Sobre a safra 2022/23, embora o último boletim da CONAB publicado dia 08/12/22, indique recorde de produção de soja e milho, ainda é cedo para se ter certeza de que teremos clima favorável para que isso se concretize, porém os riscos climáticos ainda são considerados baixos. No cenário internacional, problemas na safra argentina, redução da produção da Ucrânia e aumento da demanda chinesa, podem pressionar os preços do milho para cima e motivarem maior exportação brasileira deste grão nos próximos meses e no segundo semestre de 2023.
“Deveremos encerrar o ano de 2022 com crescimento da produção de suínos ao redor de 6% em relação a 2021, exportações em volumes similares aos do ano passado e com um novo recorde de consumo per capita ano de carne suína, superando a marca dos 19kg. Para o ano que vem espera-se um crescimento do abate entre 3 e 5% e um incremento das exportações ao redor de 2%, determinando um melhor ajuste entre oferta e demanda no mercado doméstico”, explica o presidente da ABCS, Marcelo Lopes. Em resumo, o ano de 2022 termina estancando as perdas de uma crise profunda, com a expectativa de que no ano que vem inicie a recuperação financeira do setor.